Setor deverá enfrentar avanço pequeno enquanto ocorrem mudanças estruturaisPublicado em 13/03/2023 Integrado à prática de mobilidade da Alvarez & Marsal há pouco mais de um ano, o diretor sênior David Wong, especializado no setor automotivo, onde atua há 25 anos, recebeu Automotive Business para fazer uma revisão das expectativas setoriais na indústria automobilística brasileira. No seu entender haverá um crescimento pequeno, quase estável em volume de emplacamentos, no curto e médio prazo, enquanto faltam componentes importados para dar suporte à produção."A cadeia de fornecimento ainda deve operar com rupturas até o fim de 2024, prazo que poderá se estender até meados de 2025”, afirma o especialista. No segmento de pesados a nova norma de emissões estabelecida pelo Proconve afetará os negócios no curto prazo. Mas os volumes devem ser retomados nos patamares tradicionais no país, dada a dependência local no modal de transporte e logística. David admite que diversos fatores provocam a atual fase de indefinições no mercado, afetando o crescimento da indústria automobilística. Para ele, os eventos relativos ao Covid-19 e a guerra da Ucrânia trazem impactos diferentes, como a falta de semicondutores que afeta a economia de uma forma geral mas influencia de modo crítico a previsibilidade no planejamento e produção dos veículos. Os efeitos inflacionários pós-Covid, com desequilíbrio de oferta e demanda, juntamente com a questão energética provocada pela guerra na Europa geram redefinições sucessivas sobre os planos de investimentos dos países e empresas, afetando a avaliação estratégica das montadoras e fornecedores. Carro popular é coisa do passado David considera que o conceito original do carro popular, estabelecido nos anos 1990, não existe mais há anos. Ele entende que a tecnologia embarcada, principalmente eletrônica, e a continua evolução da eletrônica nos veículos, praticamente impossibilitam ter o conceito inicial de um carro básico com acessibilidade para ter escala e preço baixo. A eletrônica no estágio atual continua a evoluir e necessita níveis de escala superiores à mecânica. O analista considera o fator picape no Brasil mais uma distorção dos efeitos no preço pela estrutura tributária no Brasil que leva a este crescimento. "As pick-ups de cabine dupla oferecem quase o mesmo espaço do habitáculo que seu similar SUV a preços mais competitivos. Ao mesmo tempo existe o enquadramento diferenciado quanto às regras de emissões”. David acredita que os veículos híbridos serão introduzidos no país em maior velocidade a partir de 2024, cabendo aos elétricos um passo menor. Os preços (se não mudar a regra tributária) de importados a bateria devem cair significativamente até 2025. Ele avalia que veículos puramente a bateria devem representar ao menos 10% do emplacamento em 2030. Preço, pontos de recarga e autonomia serão os principais obstáculos à eletrificação. O preço deve cair com o avanço da escala global. A solução para os pontos de recarga a nível país levará um tempo, mas nas regiões de alta densidade de veículos já há investimento para resolver esta questão. Quanto à autonomia para os veículos puramente elétricos pode ser vencido o obstáculo dos 500 quilômetros até 2025 ou 2026. Os 100% de eletrificação no line-up das montadoras até 2027 não deve acontecer. Algumas marcas começarão a enfatizar a presença de elétricos, mas certamente todas terão oferta mais generosa de híbridos. Avanço da eletrificação vai depender de cada mercado Vários fatores vão influenciar a reação dos fabricantes de veículos a combustão, como o poder aquisitivo no país, a relevância do etanol na matriz energética de transporte e a prioridade na rentabilidade das operações locais. Mas David entende que no mínimo algum nível de hibridização será necessário pelas montadoras nas regras atuais de emissões. Enquanto o nosso setor automotivo comemora vinte anos de produção dos veículos flex há que se considerar também que a exportação da tecnologia do motor flex já ocorre, uma vez que países europeus e os Estados Unidos já possuem veículos que podem utilizar parcelas de etanol no combustível. A outra questão é se os países desejam aumentar o uso do etanol como fonte de energia e aumentar a produção ou importação desse combustível. Indagado se o setor de consultoria tem procurado se reinventar para enfrentar as mudanças da indústria automotiva, David Wong garante que a consultoria de gestão sempre se reinventa para suportar as mudanças das indústrias. Para ele, os temas novos devem ser estudados e entendidos para suportar o setor, em campos como software e desenvolvimento nos veículos, telemetria para atender melhor o cliente, efeitos do IoT na indústria e na distribuição, e cadeia energética, incluindo bateria, hidrogênio e células de combustível. "Há várias mudanças estruturais na indústria gerando efeitos em dominó em toda a cadeia de valor do setor que requerem soluções”, finaliza. A trajetória de David Wong Antes de se juntar à Alvarez & Marsal David Wong foi consultor da A.T. Kearney, com passagem por Arthur D. Little e Booz-Allen & Hamilton (atual Strategy&), liderando a prática automotiva. O executivo, que acumula expertise nos setores de bens de consumo, tecnologia, telecomunicações e logística, é formado em engenharia elétrica pela Escola Politécnica da USP e possui MBA em finanças internacionais e gestão de operações pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia (EUA). A Alvarez & Marsal oferece serviços de consultoria, aprimoramento de desempenho de negócios e gestão de recuperação. Com o apoio de mais de 6 mil pessoas em quatro continentes, atua junto a corporações, conselhos, empresas de capital privado, escritórios de advocacia e agências governamentais que enfrentam desafios complexos. |
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Fonte: Automotive Business