Fatos e versões sobre eletrificação da mobilidade no BrasilPublicado em 26/05/2022 A mobilidade eletrificada virou o assunto da moda e os principais meios de comunicação, setoriais ou não, estampam diariamente manchetes de que o futuro do carro elétrico já chegou. Essa postura faz com que o público – e até mesmo muitos profissionais – passem a discutir essas notícias sem nenhuma base técnica ao invés de se aprofundar no conteúdo que as matérias deveriam trazer.
Veículos de comunicação do meio automotivo têm – massivamente - tratado do tema carro elétrico como forma de atrair público e reforçar a captação de audiência. Por pressão de alguns players, fica implícito o objetivo de solidificar com muita antecedência a ideia de que a baterização da mobilidade (com o veículo elétrico que dependente de uma bateria, como temos hoje) é a única solução para a redução dos gases de efeito estufa, o que passa longe da realidade. Quem leva vantagem com o carro elétrico? Para atender a seus objetivos, o futuro da mobilidade sustentável tem que se ancorar em três pilares: o ambiental, o econômico e o social. Uma indústria centenária como a automobilística não pode ser esfacelada pelo poder de países de alta renda, com volumes de capital astronômicos, que passaram a subsidiar o mercado forçando a antecipação de fases evolutivas dos sistemas de propulsão para atender seus objetivos econômicos. Motivos não faltam para reforçar esta tese como os desdobramentos do dieselgate em 2015 (fraude nas emissões de milhões de veículos da Volkswagen) e do risco de a China invadir os mercados desenvolvidos, no qual o europeu se enquadra, com seus veículos elétricos como única forma de se firmar de maneira proeminente no setor automotivo. Tecnicamente, a abordagem aos sistemas de propulsão é complexa e diariamente vemos notícias que misturam emissões de CO2 com emissões de gases poluentes e eficiência energética com veículos de emissão zero como se tudo estivesse na mesma cesta - uma verdadeira trapalhada conceitual. Para cada um desses assuntos, ações, soluções técnicas e políticas diferem significativamente, mesmo que tenham objetivos conjuntos de busca pela mobilidade com minimização do balanço de emissões. A falta de entendimento sobre os fundamentos da economia global debilita massivamente a tese de que a aceleração da eletrificação vai descarbonizar o planeta na mesma velocidade. Acreditamos que o futuro da mobilidade sustentável será uma combinação de soluções tecnológicas para diferentes segmentos de veículos, de mercados e da capacidade dos governos de investir nos distintos formatos de infraestrutura de suporte aos modais de transporte. Mobilidade eletrificada economicamente viável As decisões sobre qual solução escolher no futuro dependem da análise do ciclo de vida que, por sua vez, é consequência e depende da qualidade ambiental da energia consumida, que tem que ser de baixo carbono para movimentar o veículo, ao contrário do que meios de comunicação, associações e até montadoras propalam a todo dia considerando somente a emissão de escapamento de CO2 do veículo. Mesmo assim não existe veículo de emissão zero, pois os puramente elétricos dependem da intensidade de carbono da energia que consomem. A defesa da busca por soluções alternativas à baterização pura se intensifica em várias regiões do planeta, sendo que podemos destacar a aliança nomeada de ‘Team Japan’, das fabricantes japonesas Toyota, Subaru, Mazda, Kawasaki e Yamaha, na busca por alternativas para manter ativo o mercado de motores à combustão no mundo. A aliança trabalha com a ideia de fomentar a procura de combustíveis alternativos biológicos ou sintéticos advindos de fontes de energia limpa e de soluções a hidrogênio, que sirvam para manter esta tecnologia viva e válida inclusive nessa nova era da eletrificação. Recentemente, a Alemanha se contrapôs à ideia de banir veículos a combustão em 2035, opinião expressa pelo ministro dos transportes, Volker Wissing, confirmando o desejo de manter carros com motores a combustão mesmo depois de 2035 uma vez que os mesmos sejam movidos exclusivamente com combustíveis sintéticos ou renováveis. - BMW, Audi e Stellantis se pronunciam no mesmo sentido. Combustíveis neutros em carbono podem ser solução mais rápida Nossa visão para mobilidade puramente elétrica é a de que os investimentos em infraestrutura terão de vir antes da venda em massa dos veículos, uma vez que a mentalidade dos consumidores está vinculada à capacidade de reabastecimento durante o uso pleno do veículo, tese comprovada por pesquisas globais. Brasil tem fortes incentivos aos carros elétricos Diariamente é divulgado na mídia que o Brasil não incentiva a eletrificação e que o país vai acabar com sua indústria e ficar no passado. No caso dos veículos de passageiros elétricos puros, o imposto zero aplicado hoje aos mesmos significa um benefício às montadoras 2 vezes maior ao benefício que hoje é dado na Alemanha e quase 3 vezes mais do que o ofertado nos EUA. O incentivo no Brasil aos veículos elétricos é um dos maiores do mundo e deveriam ser reorientados no curto prazo para os “híbridos flex” e no médio para a célula de combustível a etanol, tecnologias que trarão reais benefícios aos consumidores e à indústria. |
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Fonte: Automotive Business