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Em entrevista para o especial de 30 anos de Automotive Business, Gastón Díaz Perez diz que empresa estuda localização de componentes eletrônicos e que ainda há problemas na cadeia de suprimentos

Publicado em 04/07/2025

O mercado de autopeças passa por profunda transformação na esteira dos projetos das montadoras que, hoje, são baseados em pilares como tecnologia e eficiência energética. Para entender melhor o que está por vir e os desafios da eletrônica veicular, entrevistamos o CEO da Bosch na América Latina, Gastón Díaz Perez.

Na série de reportagens e entrevistas sobre os 30 anos da Automotive Business, o executivo falou sobre como ainda existem muitos desafios no país, mesmo com o mercado se estabilizando após a pandemia.

Acompanhe a série de reportagens sobre os 30 anos da Automotive Business

O CEO da Bosch destacou que o mercado ainda não recuperou os volumes pré-pandemia, prevendo que tal recuperação só deverá ocorrer em 2026. Observou também uma mudança significativa no mix de produtos, com um aumento da procura por SUVs e uma diminuição da procura por carros populares.

Esta mudança, segundo o CEO, reflete um mercado com produtos de maior valor agregado e tecnologia embarcada, o que é positivo para empresas como a Bosch.

Por outro lado, as altas taxas de juros e dificuldades na cadeia de suprimentos, agravadas por crises geopolíticas e a escassez de semicondutores, também foram apresentadas pelos executivos como desafios que ainda persistem no ambiente industrial global. Fatores que levam a indústria a buscar alternativas de mitigação.

Como a pandemia afetou o volume do mercado automotivo brasileiro e quais são as perspectivas de recuperação para os próximos anos?

Bom, de onde a gente vem? Acho que nós sempre olhamos o volume do mercado, que cai forte na pandemia e depois começa a recuperar. Ainda não recuperou os volumes que tinha antes da pandemia, e achamos que só em 2027, por lá, poderíamos chegar de novo aos volumes que tínhamos antes da pandemia, mas pensando também que é um mercado diferente. Eu sempre gosto de mostrar um gráfico onde você tem o total do mercado, o volume na caída da pandemia, a recuperação, e depois coloco o mix que tem nesse mercado entre carro popular e SUVs, e as diferentes categorias do mercado.

Acho que isso é uma mudança significativa para a indústria. Para as empresas que trabalham em produtos de tecnologia, de alto valor agregado, como é o nosso caso, é positivo, porque temos a possibilidade de ter muito mais produto, muita mais tecnologia embarcada nesses carros. Então é um mercado diferente do que nós tínhamos no passado.

Qual é o novo perfil do mercado automotivo brasileiro em relação à preferência dos consumidores por SUVs em vez de carros populares?

O mercado que temos hoje é bem resiliente apesar do nível de taxa de juros que a gente está tendo no Brasil. Isso freia um pouco a produção e a venda, porque antes de você comprar um carro, antes de você comprar uma casa, com esse nível de juros, você vai pensar muito bem na decisão, se realmente é o melhor caminho. Então, é claro que essa taxa de juros alta afeita nosso mercado, tanto na parte de carros de passageiros, como na parte de veículos comerciais ainda mais.

É um mercado que continua tendo problemas na cadeia de suprimentos, vai mudando o problema, mas as dificuldades na cadeia continuam, tivemos a crise dos semicondutores, depois tivemos o tema das tarifas dos Estados Unidos, agora também tem o tema das terras raras, com os temas geopolíticos, a situação que nós conhecemos toda no Meio Oriente, que está acontecendo, isso são coisas que dificultam e trazem desafios na cadeia de suprimentos. Parece que isso já é o novo normal, que nós vamos continuar sempre tendo um problema novo nessa cadeia global.

Quais são as principais tendências de mercado que a empresa observa no horizonte?

Coisas novas que estão acontecendo, nós conhecemos toda a mudança tecnológica que está acontecendo no carro. Temos a mudança da eletrificação, dos híbridos entrando forte no mercado, os biocombustíveis. Outro assunto importante é o tema da eletrônica e o software embarcado. Isso é um desafio muito grande para as montadoras, para os sistemistas, porque, até agora, o grande desafio da eletrônica é a escala, e quando olhamos o tamanho do nosso mercado, é um tamanho grande, sim, mas quando você olha as quantidades que você precisa para produzir eletrônica, é um desafio os volumes que nós temos aqui na América Latina.

Estamos trabalhando para trazer mais produção local. Estudamos todos esses caminhos para poder trazer sensores também, motores elétricos pequenos. Se a gente tem dificuldade para localizar esses produtos, ou esses serviços, vai perder participação no carro. É um desafio para nós, como sistemistas, trazer mais linhas de produção de eletrônica, apesar da escala menor, e para também desenvolver competências de software, que é algo que nós estamos trabalhando fortemente na América Latina.

Existem alternativas para se viabilizar a produção local de componentes eletrônicos nesse cenário de escalas menores?

Primeiro, trabalhar junto com o governo. Nós temos encontrado formas de encontrar parcerias e suporte do governo para nos ajudar a compensar esses assuntos de escala. E, por outro lado, também temos que usar um pouco a nossa flexibilidade latino-americana, brasileira, para encontrar as formas de fazer isso. Logicamente, essas formas não vão ser as mesmas usadas na Ásia ou na Europa, nos Estados Unidos, que têm altos volumes. Vamos ter que fazer mudanças e adaptar linhas a ter atividades mais manuais, poder trabalhar com mais diversidade em número de tipos de produtos que nós fabricamos na mesma linha.

Esse é o mercado nosso. É difícil, você nunca vai ter esse volume [dos países mais desenvolvidos]. Vai ter volume de 500 mil, vai fazer um acordo com 2, 3 fornecedores, dependendo se o produto já tem uma aplicabilidade alta nos carros ou não, fabricado no Brasil. Vamos ter que dar jeitos, jeitinhos regionais para poder fazê-lo. Mas o que nós não podemos abrir mão é de fazer isso. Porque se a gente não faz isso, vai ficar fora da evolução tecnológica.

A indústria já se adaptou aos volumes atuais que o mercado brasileiro proporciona?

Como falei, hoje o mercado é diferente. O mercado que nós tínhamos antes da pandemia tinha uma participação muito grande de carro popular. Hoje é um mercado dominado por SUVs, que são carros com mais conteúdo. Isso também não é uma decisão só das montadoras. A indústria não tem possibilidades… Quem mais tem a ver com isso é o consumidor, que decidiu que isso é o que ele quer e que prefere pagar um tíquete mais alto ou não comprar. Então, eu acho que tem a ver também com uma mudança no consumidor, que nós não podemos pensar que é só porque as montadoras decidiram fazer. A indústria, no final, segue o que o consumidor manda.

É um tíquete maior, é um carro com muito mais equipamento, e também a entrada dos chineses vai e está dinamizando esse mercado. Está chegando uma certa disputa por preços, por mais tecnologia no carro, mais equipamento. Eu acho que isso é algo bom para o mercado como um todo. No sentido que obriga a todos a ser mais eficientes, a ter um produto melhor para convencer o cliente.

Aumentou a participação da área de serviços no faturamento regional da Bosch?

Estamos crescendo ano sobre ano e esse crescimento é o maior do que temos nos negócios tradicionais. Nós temos 11 mil funcionários na América Latina, um pouco mais agora, e disso, quase 10% trabalham em software, incluindo pesquisas de desenvolvimento, mais de 10% de nossos funcionários.

Temos uns 1.300, 1.400 trabalhando em software e pesquisa de desenvolvimento sobre 11 mil. Então, é relevante. E a participação cada vez é maior porque, como eu falava, nós estamos querendo formar mil mais, então nos avisamos de ir a uns 2.500, mais ou menos, funcionários de software até 2030 e com certeza não vamos duplicar a quantidade de funcionários na região, vamos crescer, mas vai ser menos.

Importação de veículos crescendo mensalmente é algo que, de alguma forma, reflete na operação local da Bosch?

Desde um ponto de vista global, carro chinês, por exemplo, que entra muito no país, a Bosch é muito forte já na China. Já é um player estabelecido, faz muitos anos, é parceiro de todas as montadoras que estão na China, as europeias, as americanas e das chinesas. Então, esses carros que chegam também têm componentes Bosch.

Mas nossa luta vai ser sempre a de localizar o componente na região, né? E, para isso, nós temos que ser mais competitivos. E essa é nossa luta, por competitividade. Se não somos competitivos, vai ser mais conveniente você comprar um produto de tecnologia de alto valor agregado, produzido no Brasil, que trazê-lo de fora. E essa luta nós temos que dar dia a dia, melhorando nosso processo, e depois tem que ser uma luta também que seja justa, que estejamos todos sujeitos aos mesmos regímenes, aos mesmos impostos, e dar essa batalha.

A Bosch precisa hoje de um profissional capacitado para trabalhar com software automotivo ou ela vai precisar?

Muito do que nós estamos desenvolvendo é para exportação. E essa exportação é para projetos globais que depois terminam voltando ao Brasil. Mas hoje a grande parte, 70% do que a gente faz, é exportação de serviços. Nós temos hoje mais de mil pessoas trabalhando em software, além das mil que vamos formar. Mas já temos hoje uma base de mais de mil pessoas e eu te posso falar que 70% disso está alocada em projetos para exportação. O qual é muito bom porque mostra nossa competitividade, nosso talento, como isso é apreciado fora.

Qual desafio preocuparia mais a Bosch no momento?

A taxa de juros é um pouco como ter febre, não? É uma consequência essa taxa de juros alta. Na verdade, surpreende o crescimento que o Brasil consegue com essa taxa de juros alta. Imagina se a gente tivesse uma economia que permitisse taxas mais baixas. Qual seria esse crescimento do Brasil? E depois o resto dos problemas são problemas globais, problemas das cadeias de suprimento, não estão afetando o Brasil só, ou a América Latina. É global, não estamos dentro do mundo, e todos sabemos os problemas que estão acontecendo, e claramente isso atrapalha o transporte, atrapalha a matéria-prima, atrapalha determinadas peças ou componentes.

Com relação aos investimentos que vocês anunciaram recentemente, teve algum tipo de revisão? Eu fico imaginando, por exemplo, o mercado de caminhões, onde a Bosch tem uma participação importante. Essa queda no mercado, de alguma forma, fez com que vocês revissem algo em termos de recursos aqui no país?

Não. Nós estamos investindo aproximadamente R$ 1 bilhão por ano. E nós vamos continuar com esse plano. O que nós anunciamos no começo do ano, que estamos trazendo toda a parte de agro para a América Latina, pesquisa e desenvolvimento, manufatura, responsabilidade local, continua. Nós acreditamos muito nesse mercado. Em entrevista para o especial de 30 anos de Automotive Business, Gastón Díaz Perez diz que empresa estuda localização de componentes eletrônicos e que ainda há problemas na cadeia de suprimentos

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Fonte: Automotive Business

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